Tempos atrás, depois de fazer o Raining Code para o MSX, portei para o ZX81 e para o TRS-80, o que ocorreu com certa facilidade, porque todos utilizam o Z80 como processador e, assim, só precisava fazer as devidas adaptações para o hardware de vídeo.
Aí pensei: fazer esse programa para o TRS-Color seria muito legal, porque ele tem um modo de alta resolução (256x192), como o MSX, em duas cores (verde e preto). Além disso, até onde eu sei, ninguém havia feito ainda, ao menos em alta resolução.
Só que minha falta de intimidade com o assembly 6809 foi, há dois anos atrás, uma barreira insuperável e acabei engavetando o projeto. Na época tentei portar o código, traduzindo as instruções e endereços do Z80 para o 6809. Minha abordagem do problema não ajudou, pelo contrário, apenas complicou.
Recentemente, resolvi retomar e cheguei à conclusão que a única maneira de avançar com o programa era retroceder. Assim, em vez de tentar portar o código do Z80 para o 6809, resolvi recomeçar do zero, de maneira que ia escrevendo o código aos poucos, ao tempo que ia aprendendo melhor o assembly do 6809. Depois de uma certa relutância inicial, meu cérebro finalmente sintonizou comunicação com o 6809 e a partir daí a programação fluiu. Tomei como lição que tentar traduzir a implementação diretamente do Z80 para o 6809 é um equívoco e que o melhor é focar no algoritmo, ou seja, partir de um nível de abstração mais elevado, para daí iniciar a nova implementação. Isso permite o uso mais adequado das peculiaridades de uma linguagem sem a interferência das técnicas de implementação da outra.
O processo
Comecei "importando" os caracteres alfanuméricos e katakana de uma ROM japonesa do MSX. Infelizmente não arrumei uma maneira de fazer isso diretamente, porque não há compatibilidade de arquivos entre o MSX e o TRS-Color, tampouco encontrei maneira de importar os dados via emulador. O jeito foi fazer à mão. Janela do openMSX de um lado, com o meu editor (não publicado) fornecendo as informações byte a byte dos caracteres, janela do Xroar do outro, anotando os dados em linhas data no Color Basic. Com muita paciência fui fazendo aos poucos e até que finalmente tinha o resultado na tela:
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Resultado do teste dos caracteres na tela do Color, no modo RG6. |
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Minha ferramenta de edição no MSX, de onde obtive os dados dos caracteres. |
Fiz ainda um pequeno ajuste, já que os caracteres do MSX são justificados do lado esquerdo e apareciam "colados" com a margem esquerda da tela do Color, o que me incomodou, esteticamente. A solução foi um deslocamento de bits para a direita. O BASIC não tem instrução de deslocamento de bits, é verdade, mas a matemática básica salva: para deslocar bits de um número binário para a direita é só tomar o valor inteiro do número dividido por dois. Uma pequena rotina deu conta fazer isso com os 736 bytes dos 92 caracteres que utilizei.
Depois foi questão de elaborar o programa em si para manipular os dados na tela. Fiz isso utilizando o Disk Edtasm 6309, ferramenta nativa do Color, como montador para o 6809.
Todos os efeitos das outras versões foram reproduzidos: cada coluna tem um delay para iniciar a descida dos caracteres e o seu apagamento; quatro velocidades diferentes para a escrita e apagamento dos caracteres, sorteadas a cada reinício de cada coluna; e finalmente, caracteres já escritos são sobrescritos por caracteres aleatórios (seriam "patches" na Matrix?). Para destacar o primeiro caractere que vai descendo pela tela em cada coluna, utilizei o velho truque deslocamento de bits para gerar o caractere bold. Poderia ter utilizado os caracteres bold pré-processados, mas acabei programando a geração dos mesmos on the fly.
Acredito que o resultado ficou muito bom, um pouco atrás apenas da versão para MSX, cuja coluna descendente tem 3 tons de verde além do caractere branco como destaque.
Download: Matrix-TRS-Color.dsk
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The Matrix has you. |