quarta-feira, 21 de agosto de 2019

Color Poker (TRS-Color)

Em 1988, eu lá com meus 13 pra 14 anos, depois de longa campanha finalmente convenci meus pais sobre as vantagens do MSX em relação ao CP-400, que eu tinha desde 85. Mas a condição, obviamente, era vender o CP-400 para ajudar a comprar um Expert, também usado.

Eu topei, sem problema. Gostava do meu amigo CP-400, de tantos anos, mas o MSX era uma máquina muito superior. A reação da minha mãe, por outro lado, foi de decepção. Ela me perguntou: "E meu jogo?".

Ela se referia ao Color Poker, que havia sido publicado na revista Micro Sistemas nº 62. Eu o havia digitado nas férias de verão de 86/87 e ela, pra dizer o mínimo, simplesmente adorava jogar. Volta e meia me pedia pra carregar o jogo. Eu saia de casa por qualquer motivo, voltava horas depois, e ela ainda estava lá, cada vez mais "rica" na jogatina. "Pena que o dinheiro é de mentira!", dizia ela, dando risada. Várias vezes eu tive que, constrangido, pedir licença para ela (o micro ficava no meu quarto) só para depois ouvir "Peraí que eu já ganhei uma grana preta! Não dá pra desligar agora e perder todo esse dinheiro". Vê se pode.

A solução para ganhar o apoio dela na troca dos micros foi dizer a ela: "Pô mãe, com o MSX eu vou fazer um jogo de pôquer 10 vezes melhor pra você". Ela parou e ficou me olhando, desconfiada da minha promessa. De fato, ela tinha razão pra desconfiar. Já com o MSX, eu me lembro de ter mostrado algum outro jogo de pôquer que arrumei, tentando substituir o "dela". Mas ela dizia que não era igual e não tinha graça. Ela queria que fosse igualzinho. Eu até cheguei a ensaiar fazer uma conversão da listagem, mas cheguei à conclusão, na época, que era mais fácil reescrever o jogo do zero. E acabou que, claro, nunca fiz o bendito. De quando em quando eu escutava "E meu jogo hein? Fiquei a ver navios...". Confesso, engambelei minha mãe nessa história.

"Fast Forward" para 2016. Eu havia abandonado a programação desde 92, quando resolvi mudar de carreira e abandonar o curso de engenharia da computação que iniciara um ano antes. Era janeiro, eu estava de férias... Eis que um belo dia, viajando pela internet, me deparo com o fantástico site Datassette. Entrei no site, entrei nas revistas, mergulhei nas páginas, fui transportado em espírito para os anos 80: as matérias, as propagandas, as listagens... Então eu vi, numa das Micro Sistemas que eu tive, lá estava a listagem do Color Poker. "Aaahhhh... vou digitar isto aqui!". Descobri um emulador de TRS-Color para Linux (xroar), compilei, funcionou, mandei ver. Com um prazer enorme, gastei mais alguns dias, enquanto redescobria o Color Basic, corrigindo e melhorando o programa da listagem original. 

Assim, quase 30 anos depois, cheguei na casa da minha mãe com um pendrive e instalei no computador dela o xroar e o Color Poker. Ela só tinha que clicar num ícone para o carregamento automático do jogo. Programa na tela verde do TRS emulado, perguntei a ela: "Então, lembra disto aqui?". Ela, "Nooooossaaa, o meu jogo de pôquer! Que legal!". 

Promessa cumprida, ela agora tem mais uma opção entre o Mahjong e o Aisleriot da vida. Às vezes ela chega pra mim e me fala: "Hoje quebrei a banca no pôquer! Pena que o dinheiro não é de verdade!", e dá risada.

Compartilho aqui o programa digitado, de autoria de Weltman Andrade de Carvalho. Minha lista com a descrição das alterações (umas 20) está num arquivo texto, dentro do pacote, que inclui imagens de disco (.dsk) e de fita (.cas) do programa. Com todo respeito ao Sr. Weltman, os sons do programa estão bem melhores agora.

E essa foi, resumidamente, a história da minha volta à programação, ou melhor, o meu início na retroprogramação, que eu devo à imersão nostálgica proporcionada pelo Datassette e, claro, à minha mãe.

Download: Color Poker - TRS-Color
 





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